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Pós-graduação: vale ao neurologista investir? Ou não?

Cursar uma pós-graduação é possibilidade interessante para quem almeja aprofundar conhecimentos e alavancar a carreira. Por outro lado, há sempre o risco de ela virar somente uma informação sem peso ou valor no currículo. Pode parecer cruel, mas, se não for adequadamente planejada, realizada em instituição de excelência, com empenho e foco definido pode gerar somente perda de tempo e de dinheiro.


Temos, felizmente, no País inúmeros casos de sucesso e animadores para quem pensa em alçar voo. São exemplos de relevância em impulso da Ciência brasileira, já que formam pesquisadores, professores, trazendo inovação e descobertas em pesquisas de alto nível.


“Os ganhos são a chance de formatar conhecimento inovador, implantar e desenvolver novos métodos de investigação científica e contribuir para esclarecer lacunas para tratamento e cura de doenças, por exemplo”, pondera João Pereira Leite, professor titular do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Neurologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP). “Obviamente que o bem-estar dos pacientes é a maior motivação para estes avanços, pois a partir de tais estudos surgem melhores tratamentos, obtemos maior precisão no diagnóstico e mais qualidade de vida”.


Qualificar médicos, profissionais de saúde e de setores afins para a investigação científica e liderança é marca da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), criada há 70 anos. Seus programas de pós-graduação desenvolvem estudos nas áreas básicas e clínicas, muitos com viés experimental.


No campo da Medicina, a pós tem caráter essencialmente de conexão entre os conhecimentos básico e aplicado, a chamada de pesquisa “translacional” (tradução para translational research).


Durante algum tempo, os cursos stricto sensu (mestrado e doutorado) foram vistos como úteis apenas para quem pretendiam seguir a carreira acadêmica, enquanto o diploma de lato sensu, como especializações, teoricamente, seria mais interessante focado em práticas do mercado. A verdade é que ambos são valorizados no mercado de trabalho, cabendo ao estudante avaliar em que sentido vai direcionar a carreira.


Ao final da pós, também está capacitado para exercer a docência em universidades brasileiras e internacionais, para obter financiamento no desenvolvimento de projetos e para a criação de grupos de pesquisa.


Segundo o neurologista João Pereira Leite, é ótimo investimento para adquirir alto nível de aptidão técnica, múltiplas competências diferenciadas, interdisciplinaridade, flexibilidade, atitude colaborativa e uma perspectiva de orientação globalizada para atender as necessidades dos setores público e privado.


“Na última década, a CAPES, como agência de fomento, passou a estimular programas para a formação de quadro especializados capazes de utilizar o método e o conhecimento científicos para aplicação direta na área de saúde” comenta ele.
Uma pós é etapa de desenvolvimento de novos métodos de diagnósticos ou terapêuticos. Estimula o espírito crítico, o avaliar evidências científicas e entender benefícios, assim como as limitações, de pesquisas científicas.


Orlando Graziani Povoas Barsottini, professor livre-docente de Neurologia do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo, (UNIFESP), assevera que para uma boa decisão é essencial acompanhar a avaliação periódica que a CAPES faz dos programas de pós-graduação, que recebem notas de 1 a 7.


“Procure se informar sobre o conteúdo, qualidade dos docentes e sobre as últimas notas obtidas nas agências avaliadoras”, aconselha. “O profissional pode se aprofundar em uma área específica do conhecimento, aprender a fazer pesquisa e produzir conhecimento. Todos ganham com isso, ele e a sociedade”.


A professora livre-docente de Neurologia, orientadora do Programa de Pós-graduação em Ciências – Neurologia do Departamento de Neurologia da USP e docente do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde do Hospital Israelita Albert Einstein, Adriana Conforto, comenta que é essencial conectar o que se aprende com a prática. É esperado que um(a) profissional com mestrado ou doutorado não adote condutas na prática clínica com base apenas no que lê em um resumo de artigo sobre um ensaio clínico. Ele deve saber interpretar o ensaio clínico e julgar se o resultado se aplica ou não às situações.
“Hoje há fácil acesso a quantidade de informações. Mas quantidade e qualidade são conceitos diferentes. São preciso bons “filtros” e a pós-graduação deve oferecer as ferramentas para a avaliação da qualidade de evidências científicas. Às o(a) profissional não quer seguir carreira de pesquisador(a). Mas vale realizar, ao menos uma vez um projeto de pesquisa, interpretar estudos científicos, escrever, discutir, apresentar-se em público: são atividades que ampliam horizontes”.
A seguir, uma série de dicas para quem está pensando em iniciar-se na pós-graduação, apresentadas por Adriana Conforto a pedido do ABNews.


● Perguntar-se: por que eu quero fazer pós-graduação? Durante a Pós, haverá diferentes obstáculos, como, por exemplo: dificuldade em recrutar pacientes, em obter informações, falta de tempo, problemas inesperados, dificuldades de financiamento. Já vi alunos frustrados por terem que apresentar aulas de qualificação, sentindo que mal haviam começado a Pós-graduação. E nem todos precisam fazer pós-graduação. É uma ótima forma de aprender a avaliar evidências – mas não é a única. Por outro lado, é uma forma de contribuir para avanços científicos que levem a grande impacto direto ou indireto na atividade médica. Resultados de pesquisas podem mudar milhões de vidas. Fazer parte de processos de inovação, de descobertas, é um privilégio e traz muita realização pessoal.


● Escolher um bom orientador ou orientadora. O aluno deve refletir sobre se é uma pessoa comprometida com pesquisa e ensino, como é sua produção científica, se tem tempo para compartilhar conhecimentos e se é do tipo que estabelece metas.


● Escolher um bom programa de Pós-graduação: quem são os docentes, como é sua produção científica, quais são as disciplinas, qual é a nota do programa?


● Gestão de tempo – algo que vai ser importante em outros aspectos da vida em geral. Para não se frustrar, deve avaliar objetivamente se terá tempo para as atividades da Pós e organizar-se para isso. Não costuma dar certo deixar as atividades da Pós para um “tempo extra” que, em geral, não existe.


● Gestão financeira. Muitos profissionais de saúde têm vínculo empregatício. É comum no Brasil que alunos de Pós-graduação não possam receber bolsas por terem vínculo empregatício. É importante preparar-se financeiramente para isso.


● Não ter medo de Estatística ou Escrita Científica. Ter alguma experiência nessas áreas antes do ingresso pode ajudar na tomada de decisão de fazer ou não uma Pós-graduação. A Pós-graduação sensu stricto não é um curso no qual o aluno apenas assistirá a aulas. Ele ou ela terá que: desenvolver um projeto; colher, analisar, interpretar e discutir dados; escrever uma dissertação ou tese; escrever artigos científicos; desenvolver habilidades de comunicação e de trabalho em equipe, dentre outras atividades.


● Se for possível e se não tiver experiência anterior com pesquisa, pode ser interessante fazer um estágio de curta duração para entender como é o dia a dia de fazer pesquisa, na prática. A experiência pode aumentar ainda mais o desejo de fazer Pós-graduação ou ajudar a entender que esse não é exatamente o caminho buscado.


● Aproveitar a Pós-graduação para fazer conexões com colegas e professores, aproveitar as discussões e o “networking” ao máximo.


● Se tiver interesse em fazer parte da pós-graduação no exterior, informar-se com antecedência sobre oportunidades de financiamentos de bolsas/estágios. Muitas vezes, o aluno só descobre essas oportunidades quando é muito tarde para aproveitá-las.


● Se o objetivo de fazer Pós-graduação for claro e relevante, as recompensas pessoais e profissionais serão altas.

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