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Neurologia no outro lado do mundo

Transformador, engrandecedor, fantástico. Esses são só alguns dos adjetivos utilizados por médicos que tiveram a oportunidade de realizar um fellowship durante sua carreira. O programa, considerado uma espécie de bolsa de mérito, é voltado para aqueles que já concluíram a faculdade e a residência e desejam obter treinamento adicional dentro de suas especialidades. 

Atualmente, são duas as vertentes principais: os clinical fellowships, equivalentes às subespecializações pós-residência existentes no Brasil; e os research fellowships, períodos de pesquisa para médicos já graduados. Seja qual for a opção escolhida, uma nova visão sobre a prática clínica e o estudo especializado são prerrogativas do programa.

João Brainer, que realizou seu fellowship no setor de Neurologia Vascular na Columbia University, em Nova York, conta que a oportunidade o presenteou com um ano de pesquisa e aprendizado na área. Sob supervisão do renomado professor Jay P. Mohr, o neurologista pôde aprofundar e validar sua tese de doutorado, além de realizar treinamento clínico e participar de aulas em Neurologia Geral. 

“Redigi artigos científicos e melhorei meus conhecimentos. As atividades clínicas e as aulas oferecidas foram um salto para a minha formação como médico”, conta.

A chance é tão promissora que Jamary Oliveira Filho não pensou duas vezes antes de enviar cartas para diferentes instituições buscando uma porta de entrada ao fellowship. Foram três processos seletivos até ser escolhido pelo Massachusetts General Hospital/Harvard Medical School, em Boston. Fellow em Neurologia Vascular e Neurointensivismo, seu objetivo era o de se atualizar na área até então muito carente no Brasil.

“Foi uma tentativa no escuro que deu certo. Não conhecia ninguém de lá e fui aceito. Durante os dois anos que passei no programa, tive contato com tratamentos que só chegariam muito depois ao nosso país. Tinha, inclusive, a licença para praticar medicina no hospital com certa autonomia. O assistente supervisiona, mas quem faz o ‘show’ é você”, detalha.

O dia a dia

Eva Rocha, também fellow em Neurologia Vascular no Massachusetts General Hospital, agarrou a oportunidade. Durante sua estada, ela aprendeu a realizar pesquisas clínicas, promoveu publicações de impacto, acompanhou os serviços de um dos hospitais de maior excelência do mundo e participou de diversas reuniões clínicas e científicas.

“Tentei aproveitar a chance da melhor forma possível. Trabalhava todos os dias em projetos científicos, estava sempre inteirada dos atendimentos em consultório, enfermaria e UTI, prestei cursos oferecidos pela universidade e até ministrei algumas aulas nesse período”, destaca.

Na Suíça, foi Oscar Bacelar quem correu atrás do fellowship em Neuroradiologia na Universidade de Basel. A tese do neurologista consistiu em associar os conhecimentos neurológicos e radiológicos em um CD interativo de ensino médico. O período em território internacional foi essencial para o sucesso do projeto:

“Você está fora do país, 100% focado no estudo. Faz sua pesquisa, participa da rotina do departamento e passa a maior parte do tempo dentro do hospital. O crescimento pessoal e profissional e a experiência de vida são inigualáveis”, explica.

Networking

Conhecer pesquisadores e colegas do mundo inteiro é outro diferencial do programa. Para Oscar, a possibilidade de manter esse vínculo é enriquecedora e promove uma nova perspectiva sobre a Medicina.

“Você começa a comparar a prática médica entre os países. Passa a entender a forma de raciocínio de cada um deles e percebe que não existe melhor ou pior, apenas modos distintos de agir”, opina.

Nesse sentido, Mario Peres, fellow em Cefaleias no Jefferson Headache Center/Thomas Jefferson University, na Philadelphia, afirma que os benefícios para a carreira são incontáveis. Ainda que tenha tido certa dificuldade com a língua, o saldo foi positivo: “Desenvolvi habilidades de comunicação, vivi em uma cultura diferente e conheci pessoas que agregaram enormemente a minha trajetória”.

Gisele Sampaio, fellow em pesquisa clínica e posteriormente em AVC e Neurointensivismo no Massachusetts General Hospital e Brigham and Women Hospital, concorda e compara: “Esses são ganhos tão importantes quanto os técnicos”. Em Boston, por exemplo, ela teve a oportunidade de trabalhar com dr. Allan H. Ropper e dr. J. Phillip Kistler, ambos ícones consagrados da Neurologia.

Dicas

Em Londres, no Grupo de Cefaleia do Instituto de Neurologia do University College London, Fernando Kowacs vivenciou experiência semelhante. Ao lado do prof. Peter Goadsby e do especialista dr. Holger Kaube, ele participou de projetos de pesquisa, acompanhou preceptorias, realizou cursos e apresentou posters em encontros e congressos.

Para aqueles que escolheram ou se interessam em seguir os passos do fellowship, Kowacs deixa dicas preciosas:

  • Tenha um objetivo claro do que quer aprender durante o programa;
  • Não escolha um Serviço, mas sim um mentor, independentemente de onde ele trabalhe. Procure conhecer as suas ideias e publicações a fundo antes de contatá-lo;
  • Seja direto em suas intenções. O interesse e a presença de fellows oriundos de países em desenvolvimento é um motivo de orgulho para muitos serviços;
  • Uma vez aceito pelo mentor, não desanime caso demore para conseguir financiamento, pois essa é uma situação compreensível;
  • Algum choque cultural é inevitável, mas a flexibilidade e capacidade brasileira de improvisação podem ser um ponto a favor em muitas situações.

Ao retornarem ao território nacional, todos os neurologistas concordam: a forma de enxergar a Medicina nunca mais é a mesma. 

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