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Obesidade e doenças neurológicas

Existe uma série de interrelações possíveis entre a obesidade, o consumo elevado de gorduras saturadas e o desenvolvimento de doenças neurológicas. 

Aliás, são inúmeras as evidências científicas de que a obesidade e suas comorbidades metabólicas, como a resistência à insulina, hiperglicemia e diabetes tipo 2, são risco de gatilho para processos neurodegenerativos como o Parkinson e doença de Alzheimer. 

Estudos recentes da Universidade de Cambridge, Inglaterra, registram que déficits de memória são significativamente mais prevalentes em pacientes com índice de massa corporal (IMC) fora da curva.

         Por essas e outras, o presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), César Luiz Boguszewski, destaca ser essencial que todos os médicos, em particular, o neurologista tenham radar sempre ligado no atendimento de pacientes com obesidade. Atenção aos pequenos detalhes pode fazer toda a diferença:

“Compreender a obesidade como uma doença grave, associada com inúmeras comorbidades e grande redução na expectativa de vida, é o início do processo de enfrentamento. Ao ser reconhecida, deve ser tratada apropriadamente e agressivamente.  Temos de vencer preconceitos que se trata somente de problema estético e comportamental, isso enquanto sociedade. Já nós, os profissionais de Medicina, precisamos sempre orientar sobre as inúmeras e potenciais complicações relacionadas à obesidade” 

Boguszewski destaca a relevância de evitar a prescrição de drogas anticonvulsivantes, antidepressivas, ansiolíticas, antipsicóticas, por exemplo, já que lavam ao aumento de massa corporal em indivíduos com sobrepeso ou obesidade:

“O mais adequado é dar preferência a medicamentos com efeitos neutros ou que até venham a ajudar o paciente a emagrecer”, completa. 

Multidisciplinaridade

         Vale ressaltar que o acidente vascular cerebral, AVC, tem como fatores de risco a hipertensão arterial, diabetes, o tabagismo e a obesidade. Tais fatores causam danos microvasculares que propiciam alterações e maior fragilidade da vasculatura cerebral e à deposição de placas de gordura, assim como à formação de trombos nos vasos. 

          Eles aumentam a chance tanto de AVC isquêmico quanto hemorrágico. Contudo, são variantes modificáveis e, portanto, passíveis de controle com um bom tratamento clínico.

Em especial se individuo possui obesidade (IMC > 30 kg/m2), com comorbidades importantes (pré-diabetes, diabetes, hipertensão, dislipidemia, síndrome metabólica), é aconselhável que neurologista atue em parceria com um endocrinologista. O atendimento especializado multidisciplinar é determinante à perda de peso, controle de doenças relacionadas e para prevenir o surgimento de complicações graves, como cardiovasculares, cânceres e neurodegenerativas.

         Além disso, uma neuro-inflamação crônica pode afetar a fisiologia do cérebro, alterar o humor e o comportamento, provocando maior risco de depressão e ansiedade.

DTI

         Estudo sobre obesidade e danos cerebrais em adolescentes, da Faculdade de Ciências Médica da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP) em conjunto com a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP), com imagens obtidas a partir de ressonância magnética, evidencia alterações na substância branca dos jovens obesos. Mostram prejuízos em regiões responsáveis pelo controle das emoções e do apetite, bem como pela cognição – mudanças importantes no giro órbito-frontal médio e redução de integridade do corpo caloso). 

Para a análise, foi utilizada a DTI (Difusion Tensor Imaging), técnica para rastreamento da difusão de água na substância branca durante a transmissão de determinados sinais pelo cérebro. Para aferição, os pesquisadores utilizaram a medida anisotropia fracionada, cuja redução é ligada a eventuais danos cerebrais.  Conclusivamente, os cientistas encontraram valores mais baixos dessa medida nos obesos. 

Sono 

Viviane Tavares Carvalho Crelier, secretária do Departamento Científico de Moléstias Neuromusculares da ABN Rio de Janeiro, afirma que também há relação entre excesso de sono e obesidade.

“Aqui temos uma via de mão dupla. Tanto os distúrbios do sono propiciam a obesidade quanto o contrário. Vemos com certa frequência que muitos pacientes obesos se queixam de sonolência diurna e sono não reparador. Isso acontece justamente porque a qualidade do sono está ruim, mesmo que a quantidade de horas seja satisfatória para a idade”. 

A propósito, há trabalhos científicos diversos comprovando a que a privação de sono leva à diminuição do hormônio anorexígeno leptina e ao aumento do hormônio orexígeno grelina. Resulta, assim, em distúrbios de apetite e ingestão alimentar inadequada com mais chances de obesidade. 

Em geral o tratamento será paralelo – tanto da obesidade quanto do distúrbio de sono.

Bariátrica

Em caso de cirurgia bariátrica, a principal complicação no pós-operatório é a neuropatia por deficiência de cianocobalamina, a vitamina B12. “Com a redução na produção gástrica de ácido clorídrico, não há a conversão de pepsinogênio em pepsina, que é necessária para a liberação de vitamina B12 presente em alimentos proteicos. Além de distúrbios de sensibilidade, a insuficiência pode redundar em fraqueza, prejuízo da marcha, alterações cognitivas, dificuldades de concentração e/ou memória”, pontua Viviane Tavares. 

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