
Envelhecer. Cabelos brancos e rugas parecem assustar a maioria das pessoas desde os primórdios. Aliás, a busca por uma existência longeva ao máximo é anseio antigo da humanidade, impulsionado ainda mais pelos progressivos avanços na medicina. Não à toa, a expectativa de vida cresce anualmente.
Nesse campo, o Brasil enfrenta diversos desafios. Grande parte de nossa população só procura um médico em casos de doenças ou não o visitam por medo de exames ou diagnósticos indesejados. O resultado forma dados alarmantes: segundo o Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), a taxa de automedicação no País chega aos 79%.
Como alento, há o fato de que, nos últimos tempos, o mundo assiste à ascensão de movimentos a perseguir uma longevidade saudável. São expressivos os números de pessoas que visam menos remédios e mais bem-estar. Esse desejo pode ser viabilizado por um conjunto de práticas e hábitos, com viés multidisciplinar no campo da saúde.
Leonardo Cruz de Souza, coordenador do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), pontua que hoje existem caminhos consistentes para um envelhecimento saudável e com vitalidade: “Temos possibilidades não farmacológicas, como a alimentação balanceada, estimulação cognitiva e atividades físicas regulares, que favorecem a longevidade de qualidade e segura”.
Os bons hábitos realmente interferem beneficamente no organismo. O exercício físico, por exemplo, potencialmente regula mecanismos fisiopatológicos ligados à imunomodulação e à neuroinflamação.. No caso da estimulação do cérebro, a teoria da reserva cognitiva é a mais aceita: “Você, estimulando-se cognitivamente ao longo da vida, terá maior reserva cerebral e complexidade sináptica, prevenindo o declínio cognitivo”, comenta Leonardo.
Aliás, os hábitos saudáveis, ao ajudar a controlar diabetes, hipertensão, obesidade e depressão, também auxiliam diversos sistemas do corpo como o vascular.
DOENÇAS DEGENERATIVAS
Em relação à longevidade cognitiva, atualmente a expectativa está voltada às doenças degenerativas como o Alzheimer. A despeito de não existir uma cura, os avanços apontam para medicamentos que possam inibir o depósito anômalo das proteínas beta-amiloide e tau, evitando a acumulação anormal e o aparecimento da doença.
Os estudos e a tecnologia em medicina colaboram por demais no conhecimento sobre o assunto: “Talvez assim consigamos potencializar os agentes farmacológicos que interferem nessas proteínas, que se agrupam e provocam o Alzheimer”, avalia Leonardo.
Drogas que visam esse resultado estão em fase de testes. Para Paulo Bertolucci, professor adjunto e livre docente na disciplina de Neurologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), um obstáculo importante para a maior eficácia segue sendo o diagnóstico.
“Quando uma pessoa já está com a doença plenamente instalada, não adianta mais, por já ter acumulado toda a proteína que podia. Acredito que precisamos de uma medida preventiva e diagnosticar antes do comprometimento cognitivo leve”, destaca.
Bertolucci afirma que o estímulo ao conhecimento da população geral e, principalmente, dos profissionais de saúde, em prol de uma identificação precoce é importante para que os medicamentos sejam eficientes, ao chegar ao mercado. Entretanto, alerta: “No Brasil o diagnóstico precoce é um problema, já que a maioria vê a demência inicial como sintoma normal do envelhecimento”.
Mesmo repleto de dificuldades, o futuro é esperançoso. Hoje em dia, para descobrir se o paciente é portador de Alzheimer, pode-se realizar a dosagem de proteínas beta-amiloide e tau no líquor. Por ser um procedimento invasivo e caro, isso acaba dificultando o acesso, mas...
“Estão em desenvolvimento marcadores no sangue e, se forem comprovados, isso será ótimo. Conseguindo identificar em um exame de rotina, podemos diagnosticar pessoas em uma fase mais precoce”, pondera Bertolucci.