Maioria dos pacientes tem mais de 65 anos, mas em muitos casos os esquecimentos corriqueiros são naturais da idade

Esquecimentos corriqueiros naturais do envelhecimento são frequentemente confundidos com o Alzheimer. Afinal, a doença acomete especialmente os idosos. A maioria dos pacientes tem mais de 65 anos.
Há uma forma precoce, em que a doença se manifesta entre 50 e 55 anos. Entretanto, não representa nem 5% dos casos.
A estimativa é de que há mais de 50 milhões de pessoas com demência no mundo. De acordo com relatórios da Associação Internacional de Alzheimer, esse número dobra a cada 20 anos, devendo chegar a 74,7 milhões em 2030 e a 152 milhões em 2050.
A estimativa é de que há mais de 50 milhões de pessoas com demência no mundo. De acordo com relatórios da Associação Internacional de Alzheimer, esse número dobra a cada 20 anos, devendo chegar a 74,7 milhões em 2030 e a 152 milhões em 2050.
O neurologista e presidente do Capítulo Estadual da Academia Brasileira de Neurologia, José Antônio Fiorot Junior, detalhou em entrevista ao AT em Família as fases da doença e como identificar se a progressão está acelerada.
O médico destaca que, no Brasil, existe uma escassez sobre a precisão do número de pessoas com doença de Alzheimer devido ao número de casos em que há dificuldade no diagnóstico. Estudos de âmbito nacional revelam uma incidência entre 5,1% e 17,5% de demência em idosos com 60 anos ou mais, acometendo cerca de 2 milhões de pessoas. Desse total, pacientes com Alzheimer representam de 40% a 60% dos casos, segundo levantamento de 2019 da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
AT em Família – Como diferenciar os sinais do Alzheimer dos esquecimentos naturais do envelhecimento?
José Antônio Fiorot Junior – É muito comum as famílias confundirem “esquecimentos corriqueiros” com Doença de Alzheimer. Para diferenciar, é preciso lembrar que para ser uma demência precisa haver perda ou redução progressiva das capacidades cognitivas de forma parcial ou completa, suficiente a ponto de provocar uma perda de autonomia do indivíduo. Portanto, se o paciente tem esquecimentos, mas ainda faz tudo sozinho, ainda e talvez nunca vire doença de Alzheimer
Quais são os estágios da doença?
A primeira fase é a leve, com o sintoma mais notável de perda de memória de curto prazo. O paciente perde a capacidade de atenção, a flexibilidade no pensamento e o pensamento abstrato. Ainda pode ser notada apatia e desorientação de tempo e espaço. Na moderada, fica mais difícil identificar objetos e executar movimentos. As memórias mais antigas, a semântica (de significados) e a implícita (de como fazer as coisas) não são tão afetadas. O paciente pode parecer desleixado ao efetuar tarefas, como escrever e se vestir.
E o que difere esses casos dos mais graves?
Na forma mais grave, há perda progressiva da capacidade de leitura e escrita e o paciente deixa de fazer tarefas simples. A memória piora e ele pode deixar de reconhecer pessoas. Há apatia, irritabilidade, instabilidade emocional, ataques inesperados de agressividade ou resistência à caridade. Cerca de 30% dos pacientes desenvolvem ilusões e outros sintomas relacionados. Incontinência urinária e fecal podem aparecer. Já na quarta fase, a avançada, o paciente é completamente dependente de outras pessoas. A linguagem se reduz a frases simples ou a palavras isoladas, acabando, eventualmente, na perda da fala. Ainda pode ter agressividade. Apatia extrema e cansaço são comuns. A massa muscular e a mobilidade degeneram-se a ponto do paciente ter de ficar deitado e não conseguir comer sozinho.
Quais os sinais de que a doença está progredindo mais rápido do que deveria?
Os principais são alterações de comportamento precoce, como alucinações e agressividade, perda do controle dos esfíncteres vesical e anal, crises convulsivas, emagrecimento e dificuldade de engolir.
O Alzheimer pode progredir para óbito?
Os pacientes com doença de Alzheimer morrem por complicações infecciosas (sepse) associadas à desnutrição. Eles não morrem diretamente pela doença.
Saiba mais Remédios e terapias
O tratamento farmacológico específico é feito com medicamentos que reduzem a velocidade de progressão da doença, chamados de anticolinesterásicos e memantina. Outros remédios como antidepressivos e antipsicóticos também precisam ser utilizados com frequência. Fisioterapia, fonoterapia e psicoterapia também são importantes.
Perguntas dos leitores!
Kelle Salles, 36 anos, nail designer - É possível reverter os danos neurológicos?
José Antônio Fiorot Junior - Não. Com os tratamentos disponíveis atualmente, ainda não é possível reverter os danos. O tratamento apenas retarda a velocidade de progressão da doença, permitindo que o paciente tenha melhor qualidade de vida por mais tempo, em média 4 a 10 anos a mais.
Josiane Alves, 39 anos, recepcionista - Qual é o papel da família e das pessoas que convivem com o paciente?
José Antônio Fiorot Junior - O papel é fundamental no sucesso do tratamento. São os familiares e cuidadores que vão controlar o uso dos medicamentos, estimular a prática de atividades físicas e cognitivas, ofertar cuidados de higiene e alimentação e levar o paciente periodicamente às consultas médicas.
Fique por dentro
O Alzheimer é um tipo de demência, ou seja, de perda ou redução progressiva das capacidades cognitivas de forma parcial ou completa, permanente ou momentânea e esporádica.
É um transtorno neurodegenerativo manifestado por deterioração cognitiva e da memória, comprometimento progressivo das atividades diárias e sinais neuropsiquiátricos e de alterações comportamentais.
Ocorre devido a dois tipos de alterações nos neurônios da memória.
No primeiro ocorrem mudanças estruturais, bem como as perdas sinápticas e a morte neuronal. No segundo, há prejuízos dos neurotransmissores.
O risco aumenta com o número crescente de familiares de primeiro grau afetados.
Agnosia - Perda da capacidade de reconhecer objetos mesmo com funções sensoriais intactas.
Apraxia - Dificuldade de fazer movimentos motores.
Os números
3,2 segundos é o intervalo entre novos casos detectados
50 milhões de pessoas no mundo têm demência no mundo
65 anos ou mais é a idade de mais de 95% dos pacientes
Fonte - A Tribuna Online